de Marcos Gouvêa de Souza

 7 de agosto de 2023  Mercado & Consumo

O cenário político e econômico está se desanuviando e isso parece positivo. Só que não.

Se nos conformarmos em olhar o curto e o médio prazo, uma conjugação positiva de fatores sinaliza a perspectiva de um período melhor do que foi anteriormente previsto, contrariando as expectativas geradas especialmente no setor financeiro e retratadas nas pesquisas Focus, divulgados semanalmente pelo Banco Central.

Aliás, nesse aspecto já temos um quadro que merece reflexões, pois os indicadores considerados relevantes para muitas decisões sobre taxas de juros e outras medidas no campo econômico e financeiro são fortemente balizados pelas expectativas dos agentes que atuam nesse ecossistema, sem dúvida o mais preparado para ganhar em qualquer cenário. É quase como colocar o bode para tomar conta da horta.

Seria fundamental incorporar na base de consulta da pesquisa Focus os representantes dos setores ligados à economia real, em especial o comércio, o varejo e o consumo, aqueles que encontram os consumidores todos os dias, o dia todo e que podem e devem ter uma visão distinta dos agentes e consultores financeiros. E que poderiam trazer uma perspectiva mais transversal e real do comportamento presente e futuro dos mais diversos setores econômicos.

Mas, independentemente desse importante aspecto, está quase que contratado um processo de retomada econômica com impacto positivo no varejo, no comércio e no consumo por todas as razões mencionadas em nosso artigo “Depois da tempestade vem a bonança e o vento soprando a favor do varejo neste semestre”. E muito tem a ver com a queda da inflação e a redução das taxas de juros nominais, resultado da ação direta e consciente do Banco Central.

É razão para sorrirmos e voltarmos a considerar que Deus reassumiu sua cidadania brasileira? Definitivamente não.

Muito pelo contrário.

O bom cenário positivo de curto e médio prazo não pode nos enganar e criar uma cortina de fumaça em relação às questões mais estruturais e estratégicas que envolvem o Brasil.

Muito mais precisaria ser feito para termos razões para acreditar que temos um caminho e uma proposta para o longo prazo para o País.

Ninguém pode negar que temos um País desajustado, desigual e desequilibrado em muitos aspectos. E sem um projeto consistente de longo prazo.

Temos ao mesmo tempo o que é mais atual e visionário atuando em Ilhas de excelência global, como é o caso do Pix, só como um exemplo, e outros segmentos convivendo e dependentes das benesses do Estado.

Há setores que são benchmarking global por sua maturidade e atuação, como o financeiro e o agro, e setores que perderam o bonde da história porque se acomodaram com o protecionismo que os alavancou no passado, como ocorreu em parte do setor industrial.

Assim como outros setores, como o de comércio e varejo, que têm operadores também atuando em nível para se tornarem “the best in class” e outros, porém, convivendo com o atraso e sobrevivendo por conta da informalidade.

Da mesma forma como outros segmentos do setor de serviços, cada vez mais relevante em sua participação no PIB em linha com as tendências globais, que se dividem entre empresas com relevante crescimento e protagonismo e outras em busca de alternativas.

Sem falar no crescimento de setores ligados à tecnologia e o digital, nos quais encontramos o mesmo cenário com algumas empresas que se tornam relevantes globalmente por conta de sua visão e excelência operacional, e o exuberante ambiente de inovação, transformação e disrupção em que nossas iniciativas e visão conduzem a novas fronteiras sendo desbravadas.

É um país de contrastes cada vez mais evidentes em seus múltiplos formatos, em que existe o que de melhor se faz no mundo, adequado à nossa realidade, e o atraso se impõe onde a dependência do Estado marcou a estratégia e a falta de visão.

Por tudo isso, em especial para as novas gerações com o dever de assumirem protagonismo nesses novos ciclos que se iniciam, é tempo de um chamamento ao dever de sermos mais ambiciosos. E, de forma objetiva, tudo começa com a visão do que nos propomos no campo da educação como um dos fundamentos de um projeto estratégico para a Nação.

Para reduzir as diferenças, potencializar nossos diferenciais positivos e assumirmos um compromisso com a redução das desigualdades e não nos deixarmos cativar pelo devaneio do curto prazo sem sustentação.

Não podemos e nem devemos nos iludir com as vitórias das batalhas efêmeras e precisamos nos manter mobilizados para a transformação estrutural e estratégica da Nação. Só isso deveria nos unir.

Vale a reflexão.

Nota: Esses novos e importantes elementos que impactam a transformação do varejo e do consumo também serão apresentados e debatidos com 225 palestrantes para os mais diferentes canais, categorias, formatos e modelos de negócios do varejo e do consumo no Latam Retail Show, tendo como tema central “Back to the Future”, de 19 a 21 de setembro em São Paulo. Conheça mais clicando aqui.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.

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