Leonardo Hermeto*
27 de setembro de 2020 | 06h00 Estadao

A pandemia causada pelo novo coronavírus impactou de forma severa todas as áreas da economia e não foi diferente para os shopping centers, que tiveram suas portas fechadas e viram suas receitas caírem praticamente a zero a partir de março.

Quase todos os shoppings pararam de cobrar aluguel e FPP (fundo de promoção e propaganda), além de reduzirem as taxas de condomínio em 50%. A perda foi ainda pior para os lojistas, que viram as vendas caírem drasticamente, à exceção das lojas-âncora ou megalojas que, com uma estrutura mais robusta e preparados para o mundo digital, asseguraram a manutenção de parte das receitas.
Segundo dados da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), em 2019, o setor registrou alta de 7,9% nas vendas, com faturamento de mais de R$ 192 bilhões, e começou 2020 com perspectivas positivas. Com a mudança de cenário, a partir de março, a queda foi de 35,3%, e, em abril, de 89%. Em maio, com a reabertura em algumas localidades, a redução foi de 75,5%.
Com isso, as administradoras de shoppings se viram obrigadas a reduzir seus custos, negociando com fornecedores, eliminando alguns serviços e, em especial, diminuindo a folha de pagamento, dispensando profissionais. No entanto, algumas recorreram à MP 927/2020, que estabelece medidas trabalhistas que poderiam ser adotadas pelos empregadores para a preservação do emprego e da renda e para o enfrentamento do estado de calamidade pública e da emergência de saúde pública de importância internacional, decorrente do coronavírus, proporcionando menor carga horária de trabalho para o time.
No entanto, essa redução da força de trabalho nas administrações dos shoppings (cerca de 30% nos nossos clientes) não aconteceu de forma proporcional à redução de trabalho. Boa parte dos serviços, especialmente para o administrativo, continuou a ser executado normalmente. Faturamento, cobrança, contabilidade, contas a pagar, folha, entre outros, permaneceram com suas rotinas inalteradas, ou melhor, até oneradas em função de novos processos. Houve trabalho adicional na renegociação e geração de acordos com centenas de lojistas em cada shopping, mudanças significativas na folha em função da MP 927/2020 e replanejamento do orçamento, para lembrar apenas de alguns.
Em razão dessa desproporção, os gerentes e superintendentes estão procurando otimizar em seus processos, de forma a fazer as atividades com mais eficiência e utilizando o recurso da automação, muitas vezes baseada em abordagens de Inteligência Artificial. A chave aqui é o redesenho de processos. É interessante notar que esse movimento tem trazido um benefício expressivo para os profissionais que participam dessa nova jornada, que têm aumentado suas habilidades, para fazer cada vez mais, e de forma inovadora, ao aprenderem novas técnicas e metodologias, além de usarem tecnologias de ponta.
Com planejamento, adaptação de espaços, negociações e muito protocolo para a segurança de todo os profissionais, até o início de agosto, mais de 540 empreendimentos haviam retornado às atividades, o que representa 93% do total.
No entanto, ainda diante deste cenário incerto, os shoppings têm buscando se reinventar, partindo para novas frentes como alternativas para a retomada financeira. Uma das saídas é o investimento em iniciativas digitais, que são um caminho sem volta, pois mesmo com a flexibilização, o tráfego físico não voltará ao normal por um tempo indeterminado. Para buscar receitas, os shoppings estão apostando no atendimento online, com a adoção de marketplaces próprios, e usando o recurso da loja online para dispor um ambiente único aos varejistas das suas redes.
Com isso, existem desafios clássicos de integrar o estoque com as plataformas digitais, endereçar o assunto logística e criar um modelo ganha-ganha para lojistas e shoppings, mas, certamente, estes e outros problemas serão vencidos em breve. Um cuidado que os shoppings precisam ter nesses projetos é preservar para si os dados gerados pelos tráfegos nas suas plataformas, visto que é um ativo fundamental para a continuidade dos negócios.
Com isso, o empreendimento pode se tornar mais do que um locatário de espaços físicos para lojas, tornando-se um hub de negócios, seja para vendas ou para otimizar a relação com os consumidores, que precisam de um ponto estratégico para retirar os produtos, por exemplo.
*Leonardo Hermeto, Head da Unidade de Negócio Shopping da Group Software

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