No Natal das lembrancinhas, varejistas registraram aumento de 10% no faturamento em comparação com 2020, mas, apesar do resultado promissor, não superaram o patamar de 2019. Neste ano, a inflação de dois dígitos corroeu expectativas de crescimento e lucro de lojistas, que evitaram repassar todos os aumentos para atrair a clientela.

Nos shoppings, optar por presentes de menor custo para não deixar a data passar em branco foi a principal opção de três em cada quatro clientes, segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop).

O segmento registrou crescimento real de 10% nas vendas ante 2020, com destaque para roupas (61%), brinquedos (37%) e perfumes, cosméticos e calçados (36%).

A segunda parcela do 13º salário, paga até o dia 20 de dezembro, deu novo fôlego à movimentação no varejo que, em 2021, superou o ano passado, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

No entanto, segundo Fabio Bentes, economista sênior da entidade, o varejo não atendeu às expectativas, e 2021 deve fechar com um Natal fraco.

— Os consumidores estão circulando com o bolso castigado por uma inflação de 10%. Para compensar esse efeito que tende a puxar o número de vendas para baixo, teria que ter um aumento de fluxo mais expressivo que a gente teve. Pelo que vemos, estamos caminhando para a segunda queda consecutiva de vendas no Natal — afirma Bentes, que sustenta a previsão de queda de 2,6% neste ano.

Tíquete médio em queda

Segundo ele, para chegar a um cenário de estabilidade ante 2020, a circulação de pessoas no dia 23 de dezembro deveria ser pelo menos 15% maior do que a da semana passada. Porém, a CNC registrou alta de 11,6%.

Entre os segmentos, Bentes espera que supermercados e vestuário tenham os melhores desempenhos, correspondendo a 78% do total de compras neste Natal.

Por outro lado, bens de consumo duráveis como eletroeletrônicos e eletrodomésticos não terão destaque, com brasileiros temendo dificuldade para honrar o parcelamento de produtos.

Fora dos shoppings, o Natal conseguiu dar um fôlego rápido ao comércio de rua. O aumento de 10% no faturamento ante 2020 na Saara, comércio a céu aberto no Rio de Janeiro, traz alívio para o presidente do centro comercial, Eduardo Blumberg, porém não se equipara ao valor movimentado em 2019, que só deve se retomado em 2022.

No entanto, ele afirma que a inflação a dois dígitos corrói parte do lucro dos vendedores, que não conseguem repassar os aumentos de preços aos consumidores. Outro reflexo da taxa foi sentido no tíquete médio, que caiu de R$ 25 em 2020 para R$ 15 neste ano.

— Vimos mais gente nas ruas, mas querendo gastar menos. Neste Natal, as pessoas foram às compras de olho nas lembrancinhas, para não deixar de dar algo na data — afirma Blumberg, que apontou os enfeites natalinos, brinquedos e bijuterias como os itens mais procurados.

Atacado pressionado

Na região da 25 de março, em são Paulo, as vendas cresceram entre 10% e 15% ante o Natal de 2020, sem considerar a reposição da inflação. O diretor da União de Lojistas da 25 de Março, Marcelo Semaan, afirma que houve maior movimento nas ruas, mas sem alteração no tíquete médio.

— Nesta época, principalmente em cima da hora, o mais procurado é o setor de brinquedos, e também presentes para adultos, decoração e lembrancinhas ficaram no foco dos clientes, por terem até ficado um pouco mais baratos — conta.

Bentes lembra que o comércio de rua é o segmento do varejo mais afetado pelo aumento de preços, porque os estabelecimentos lidam com a inflação dos produtos de atacado, hoje acumulada em mais de 25%, segundo o economista. E para lojistas de pequeno porte, é mais difícil repassar os preços aos consumidores.

Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/macroeconomia/com-inflacao-de-dois-digitos-vendas-sobem-no-natal-mas-ainda-estao-longe-de-2019-25333198

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