Fundada há 50 anos, companhia quer expandir operação em Norte e Nordeste

Por 

Rennan Setti  o globo

09/02/2024

 

Depois de ter anunciado, na noite de quinta-feira, um lucro líquido recorde de R$ 1 bilhão para 2023 — salto de 32,6% —, a Multiplan está apostando na melhora do quadro econômico e na expansão dos seus shoppings para crescer o balanço em 2024.

Em conversa com a coluna na tarde desta sexta-feira, o CEO Eduardo Kaminitz Peres falou sobre como a companhia vem capturando as mudanças nos hábitos dos consumidores no pós-pandemia e para quais regiões quer expandir a operação daqui para frente.

Há um ano, Eduardo Peres sucedeu ao pai, José Isaac Peres, na cadeira de CEO. O patriarca fundou o negócio há 50 anos e, hoje, preside o conselho de administração da Multiplan, que vale R$ 15,9 bilhões na Bolsa.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

A Multiplan lucrou R$ 1 bilhão pela primeira vez em 2023, e os lojistas cresceram suas vendas em quase 10%. Quais decisões operacionais permitiram esse resultado?

O resultado foi muito importante, e divulgamos um ano depois de eu chegar à cadeira de CEO. (Antes, ele era vice-presidente de operações). Nesse cargo, você passa a orientar, em vez de fazer diretamente. Então o desafio foi alinhar todo o time. Outra parte do segredo foi ter um olhar muito atento à experiência do consumidor, nunca perder esse foco. “Ah, o mercado não gosta, acha que tem que ser isso ou aquilo…” Não importa.

A propósito, as ações estão caindo, embora os analistas tenham avaliado positivamente o balanço…

Eu não perco tempo com isso. Não é questão de ser esnobe, é não perder o foco. A beleza do mercado é essa: quem não gostou, vende; quem gostou, compra.

Mas, além da questão de time e do foco, como o cenário macro influenciou no balanço?

Ano passado foi marcado por muita incerteza, juro alto e endividamento. Mas as vendas seguiram crescendo e já abriram janeiro deste ano crescendo forte. A expectativa para 2024 é muito otimista. Vai haver queda de juros, a inflação está comportada, e, pelo que vemos, há cada vez mais marcas buscando os shoppings. É, sem dúvida, um cenário mais fácil de navegar que o de 2023.

O balanço mostra que serviços e alimentação são os segmentos que mais cresceram, 17,1% e 10,5%, respectivamente. Por quê?

É uma tendência que vem desde a pandemia. O confinamento trouxe essa urgência de viver, as pessoas viram a proximidade da morte, todo mundo conhecia alguém que morreu. A relação com o dinheiro mudou, ninguém mais quer ficar preso em casa, e o consumidor está agindo de modo diferente. Apenas 32% do nosso mix são vestuário. A tendência da busca por experiências vai continuar crescendo.

Por que a companhia decidiu retirar as cancelas dos estacionamentos? Como está a implementação disso?

Quando comecei a defender isso na companhia, antes mesmo de ser CEO, quase apanhei (risos). Hoje, a implementação tem sido um sucesso, porque é uma facilidade desejada. Já fizemos isso em sete shoppings, mas até abril estará em toda a rede.

Como funciona?

O sistema é baseado na leitura de placa quando o veículo entra no shopping. O cliente entra no aplicativo Multi, registra a placa e pode escolher o método de pagamento. No caso de veículos com tag, a tag vira apenas um meio de pagamento. E o cliente que preferir pode continuar retirando o tíquete e pagando no caixa, ou no app etc. Não vamos forçar ninguém a usar. Pra gente, além de melhorar a experiência para o consumidor, é uma forma de conhecê-lo melhor.

A receita com estacionamentos vem crescendo, em parte porque ficou mais caro, mas também porque o fluxo está maior. Por que mais gente está frequentando o shopping?

Nosso shoppings são mais de 50% experiência, apenas 30% loja de roupa. A pessoa usa o shopping como parte da sua rotina. No Barra Shopping, por exemplo, o cliente vai ao médico, ao boliche, ao cinema e até faz compras (risos). A vida acontece cada vez mais ali dentro.

Como está o processo de expansão dos shoppings atuais da Multiplan?

Temos sete em expansão, sendo três já em construção: DiamondMall (MG), ParkShoppingBarigüi (PR) e MorumbiShopping (SP). Outros dois projetos vão entrar em construção este ano, os de Maceió e Brasília; em 2025, será a vez dos de Jundiaí e São Caetano (ambos em SP). Isso tudo equivale a quase 70 mil metros quadrados de ABL (área bruta locável). As expansões são um vetor de crescimento da companhia.

Mas e quanto a novos shoppings?

A gente segue prospectando algumas regiões, em áreas onde o setor agro é forte e no Nordeste, por exemplo. Norte e Nordeste são uma grande oportunidade para a gente explorar. A gente quer estar nas cidade onde a Multiplan não está, mas ainda não encontramos o terreno ideal.

O último grande projeto foi o ParkJacarepaguá, inaugurado no Rio no fim de 2021. Como vem sendo seu desempenho?

Ele está surpreendendo a gente. No primeiro ano, cresceu acima de 20%. Todo shopping tem um período de maturação nos primeiros cinco anos, moldado pelas pessoas que o frequentam. Ele está nesse momento. Tem uma vacância um pouco maior que os outros, então é a hora de corrigir o que não está funcionando e ir ajustando o mix.

Além das expansões, a companhia também vem apostando em revitalização…

Sim. Estamos começando, por exemplo, a revitalização do Barra Shopping, que vai terminar no fim de 2025. O que você vê hoje é um shopping de 40 anos atrás. A gente quer diminuir a quantidade de materiais, neutralizar os corredores, trazer mais conforto. A Feu Arquitetura está à frente do projeto. E é um shopping que ainda tem espaço para crescer. Nos próximos anos, devemos fazer uma expansão ali.

A Multiplan está fazendo 50 anos. Como vocês enxergam o futuro no longo prazo?

Eu imagino a companhia explorando caminhos que ela ainda não percorreu. Pode ser no digital? Pode, ali não há limite. O app Multi já está entre os dez mais baixados das lojas de aplicativos… Agora, nunca vamos perder a veia de construir shoppings e empreendimentos residenciais. Estar em mercados em que não estamos hoje será uma prioridade daqui pra frente.

O app Multi tem alguma pretensão de colocar um pé no e-commerce?

Não temos essa intenção. Queremos ampliá-lo, investir em fidelidade, desconto etc. Mas não e-commerce.

No auge da pandemia, chegou-se a publicar obituários da indústria de shoppings… Como o sr. avalia aquelas percepções, em retrospecto?

Em futurologia, tudo cabe. É fácil, no meio de um cataclismo, falar o que vai acontecer, mas ninguém nunca sabe. Hoje, o setor de escritórios está sofrendo, mas, graças a Deus, estamos concentrado no setor de shoppings, cuja demanda só cresce.

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