Por Rennan Setti 06/01/2025 o globo
Fabio Faccio, CEO da Renner — Foto: Divulgação
RESUMO
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Qual balanço o senhor faz do ano que passou?
A gente veio de um ciclo importante de investimentos. Ao longo de três anos, investimos quase R$ 1 bilhão anualmente. Depois desse ciclo, 2024 marcou uma grande virada. A necessidade de investir em infraestrutura fica menor, e a gente começa a colher os frutos. Eles começaram a ser sentidos em meados de 2024, e a expectativa é de impactos positivos nos próximos anos.
Qual foi o foco desses investimentos?
O maior deles foi no centro de distribuição em Cabreúva (SP), mas a gente investiu no negócio fim a fim. Um dos principais focos foi proporcionar maior volume de dados e ferramentas para o time de estilo da companhia, como criação em 3D e redução de amostras na confecção, além de esforços para maior integração com parceiros e fornecedores.
Qual é a expectativa para 2025, diante de juros altos e inflação ainda resistente?
A perspectiva para 2025 é positiva. Continuamos em um ambiente econômico desafiador, mas o setor vem registrando melhora. Inflação e juros altos não são bons para ninguém, há crise de confiança, o Brasil precisa reduzir gasto público, fazer reforma administrativa etc. Mas o país não está tão mal quanto se vê nos indicadores de confiança. O resultado pode até estar aquém do potencial, mas o desempenho operacional das empresas em si vem melhorando.
Qual avaliação o senhor faz das mudanças sobre e-commerces estrangeiros?
O chamado cross border continua sendo uma questão bastante complicada. A complexidade tributária do Brasil é a maior do mundo. Provavelmente temos a maior carga tributária do planeta. Mas quando você convive com essa carga de imposto elevadíssima e compete com players que pagam zero, aí se dá um absurdo. Era uma situação de flagrante falta de isonomia. Até então, nunca tínhamos visto um protecionismo às avessas, mas era justamente isso que ocorria. A gente defende o liberalismo e a competição, mas com isonomia. Dito isto, as regras que foram implementadas foram um avanço. Só que essas plataformas ainda pagam uma carga equivalente à metade do que uma empresa brasileira paga. Ainda não é justo nem isonômico. A gente teve recentemente um novo aumento (de taxa sobre os e-commerces internacionais) por meio de Fazendas estaduais. Mas, infelizmente, alguns estados estão sendo lentos na adoção, o que gera problema. Não entendemos a razão dessa ineficiência.
Qual é o impacto do fenômeno das bets?
O impacto das bets para nossa empresa é menor. Nosso público é majoritariamente feminino e das classes A-, B e C+. Já o público das bets é majoritariamente masculino e de outras classes. O maior impacto é para o país, de saúde pública. Felizmente, começou-se a olhar para o tema. A discussão está acontecendo, e precisa mesmo acontecer, porque é um problema importante.
Qual é a estratégia de expansão de lojas?
O modelo “omni” (on-line e offline) tem se provado cada vez mais importante. Nossa empresa tem que ser tão integrada quanto a vida do cliente. Hoje, temos 687 lojas (contando Camicado, Youcom e Ashua). Estamos discutindo a projeção para este ano, mas a tendência é acelerar a expansão. Enxergamos oportunidades sobretudo para as marcas Renner e Youcom, em mercados nos quais elas ainda não estão. A presença física é ainda mais importante com o avanço do e-commerce.
Por quê?
Com moda, as pessoas gostam de sentir, tocar o produto, de vez em quando querem ir à loja etc. Elas podem comprar como quiser, mas, para ter a experiencia completa, a loja física tem que estar perto. Ninguém vive só on-line. Quando a gente abre uma loja física em uma cidade, as vendas no canal on-line aumentam de forma relevante. Uma coisa suporta a outra. Por isso que a gente tem focado em chegar a cidades onda não há nenhuma loja hoje.
Por que, apesar da melhora do balanço, as ações da Renner continuam 75% abaixo do auge pré-pandemia?
Há uma crise de confiança dos investidores com relação ao país. Se o desempenho das empresas brasileiras melhora, o investidor tem inúmeras outras opções que competem com a Bolsa. E o estrangeiro, que é 89% da nossa base acionária, está especialmente receoso em investir aqui. Por isso, os ativos brasileiros em geral estão subvalorizados. A oportunidade que isso representa dependerá da retomada da confiança.
Em conversa com a coluna, o CEO da Renner, Fabio Faccio, contou que a varejista viveu uma transição de ciclo no ano que passou e que a perspectiva para 2025 é positiva, mesmo que a conjuntura econômica esteja “aquém do
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