O risco fiscal foi o principal determinante do desempenho da economia brasileira e dos preços dos ativos financeiros (câmbio, juros e bolsa) em 2021. Com as previsões de déficit primário de R$ 220 bilhões e a dívida em 100% do PIB no início do ano, os preços dos ativos financeiros mostraram forte queda no primeiro trimestre. Com desvalorização cambial e preços das commodities em alta, a inflação acelerou, forçando o Banco Central a aumentar a taxa de juros já em março e a adotar uma política monetária mais dura que o esperado.
O bom desempenho do PIB (crescimento de 1,3% t/t), e o surpreendente superávit primário do primeiro trimestre (R$ 51,6 bilhões) reverteu as expectativas e os preços dos ativos entraram em trajetória de elevação.
A mudança no teto do gasto gerou perda de credibilidade do regime fiscal e pressão negativa sobre os preços dos ativos. A economia entrou em desaceleração. O PIB recuou — 0,4% no segundo e — 0,1% no terceiro trimestre do ano.
A queda do número de casos e de óbitos, o fim das medidas de isolamento social e a mobilidade urbana, evitaram uma desaceleração mais acentuada. A demanda por serviços mostrou forte elevação. O mercado de trabalho reagiu e a taxa de desemprego caiu de 14,9% da força de trabalho no primeiro trimestre para 12,1% no trimestre encerrado em outubro. A maior queda da série histórica.
No cenário microeconômico, o governo conseguiu grandes vitórias. Reformas e novos marcos regulatórios foram aprovados. A autonomia do Banco Central, reformas do mercado de crédito e de capitais, o novo marco regulatório do mercado de câmbio. A aprovação do regime de autorização para a construção de ferrovias e o marco regulatório da cabotagem..
Concessões de 13 rodovias, 22 aeroportos, uma ferrovia, sete linhas de transmissão, sistemas de água e esgoto de várias regiões. Os leilões foram concorridos com o pagamento de ágios e investimento expressivos. O leilão do 5G na telefonia celular movimentou R$ 46,7 bilhões dos quais R$ 42 bilhões a serem investidos em infraestrutura.
O ano de 2021 foi negativo do ponto de vista macroeconômico, com o rompimento do teto do gasto e perda de credibilidade do regime fiscal, porém, do ponto de vista microeconômico, o ano foi positivo, com a volta dos investimentos privados à economia.
O que esperar para 2022?
O ano de 2022 será desafiador. Nossa projeção para 2022 é de baixo crescimento do PIB, diante da elevação da taxa de juros para combater o processo inflacionário. A mudança do teto do gasto gera desconfiança quanto à manutenção do processo de consolidação fiscal.
Projetamos desaceleração da inflação no ano diante do aumento da Selic para um terreno significativamente contracionista, visando ancorar as expectativas de inflação para o horizonte de 2023 em diante.
A importante exceção é o setor de serviços. A diminuição das medidas de restrição à mobilidade urbana e de isolamento social deverá manter a demanda por serviços em crescimento. Entretanto, o cenário para atividade é de crescimento fraco no quarto trimestre de 2021 e início de 2022 e o consumo das famílias deverá ser limitado pelo elevado endividamento.
Com a inflação em alta, o Brasil terá, provavelmente, a maior taxa de juros entre os emergentes. Projetamos que a Selic chegue a 11,75% ao final do primeiro trimestre de 2022. Esse elevado diferencial de juros deve ser um vetor para apreciação do real. Entretanto, avaliamos que será um ano com muita volatilidade e aumento dos prêmios de risco. Projetamos uma taxa de câmbio em R$ 5,70/US$ 1,00.
Do lado positivo, vemos sinais de crescimento da economia mundial, o que ajuda as exportações brasileiras, expectativa de boas safras, a existência de um elevado caixa nos Estados, que poderá gerar investimento, o Auxílio Brasil, e volta dos investimentos privados com os leilões de concessões e privatizações, são fatores de crescimento da economia.
O arrefecimento da pandemia deverá ser o principal driver de crescimento. A normalização de setores que ainda estão muito abaixo do nível pre-pandemia implicaria em um avanço de, aproximadamente, 3% do setor serviços. O comportamento da variante Ômicron será um importante fator de risco.
A inflação deverá desacelerar para 5,3% em 2022. Nossa projeção aponta para crescimento do PIB de 0,6% sustentado pelos avanços do setor de serviços, investimentos e agropecuária.
Fonte: https://exame.com/bussola/o-que-aprendemos-com-a-economia-em-2021-e-o-que-esperar-do-futuro/
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