Rede de varejistas tende a crescer
Agenda fiscal precisa ser mantida
CARLOS THADEU DE FREITAS GOMES
20.fev.2020 (quinta-feira) – 9h00
O comércio varejista brasileiro sofreu com a crise econômica recente. A retração na atividade fez o varejo amargar 3 anos de reduções no volume de vendas, 2014 (-1,7%), 2015 (-8,6%), e 2016 (-8,6%), de acordo com o IBGE. Em 2017, as vendas iniciaram o processo de recuperação, quando cresceram 4% em relação a 2016, ano em que a base de comparação estava bastante baixa.
O desempenho negativo do volume de vendas de 2014 a 2016 foi naturalmente acompanhado pelo fechamento de lojas país afora.
Estabelecimentos de micro, pequeno, médio e grande porte fecharam as portas, caracterizando a brusca redução no consumo das famílias. As quedas nos índices de confiança das famílias e dos empresários do comércio, apurados pela CNC, foram apontando a tendência negativa no número de estabelecimentos varejista no país durante a crise.
De janeiro de 2014 a dezembro de 2016, em todos os meses caiu o volume de estabelecimentos varejistas declarantes no Caged, da Secretaria do Trabalho. Passados 36 meses de reduções, em janeiro de 2017 tivemos o primeiro crescimento no número de lojas, 2% a mais em relação a janeiro de 2016.
Durante o ano de 2017, o comportamento do número de estabelecimentos declarantes variou entre taxas positivas e negativas, e já naquele ano a curva de tendência era de crescimento. Em 2018, finalmente observamos aumento no número desses estabelecimentos comerciais, em que a média anual de lojas declarantes cresceu 2,1% relativamente à média de 2017.
A partir do último trimestre de 2016, começaram a se recuperar tanto, a confiança dos consumidores, quanto a dos empresários. O nível de consumo e a perspectiva quanto ao consumo no curto prazo estavam em rota de crescimento já em outubro de 2016, assim como as intenções de investimento dos comerciantes nas empresas. A recuperação da confiança dos agentes passava a indicar uma retomada no número de lojas já em 2017.
O ICF (Índice de Consumo das Famílias), alcançou em fevereiro daquele ano o maior nível desde abril de 2015. Um dos principais destaques para o resultado positivo foi a melhora justamente na perspectiva de Consumo, indicando que 36,4% das famílias tinham a intenção de consumir mais. O indicador superou o patamar de satisfação dos 100 pontos, revelando contentamento dos consumidores também para o consumo em prazos mais longos.
Ao perceberam a aceleração na intenção de consumo, os empresários, mais estimulados, buscam ampliar os investimentos. O Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio) alcançou o melhor resultado desde dezembro de 2012, em 7 meses consecutivos de alta.
O movimento de recuperação da demanda é traduzido de forma mais nítida na Intenção de Investimento na Empresa, em que a maioria dos empresários (54,6%) revela intenção de ampliar investimentos nas lojas, a maior proporção desde maio de 2014.
Esses indicadores antecedentes associados ao comércio possuem forte correlação positiva com o volume de estabelecimentos declarantes do comércio varejista no Caged, especialmente a confiança do consumidor.
A evolução do nível de consumo atual e da perspectiva para o consumo nos meses à frente são altamente correlacionados com a dinâmica de lojas declarantes do varejo, 0,79 e 0,73, respectivamente.
Com a retomada na confiança das famílias e comerciantes, o que tem se traduzido também na recuperação do volume de vendas do varejo, ficou para traz a era do fechamento de lojas. Agora, a tendência é de crescimento do número de estabelecimentos varejistas.
Para isso, é extremamente importante que o país evite qualquer afrouxamento na agenda fiscal. Com o ajuste nas contas públicas avançando, diferentemente do ocorrido em programas monetários do passado, as expectativas dos agentes para o longo prazo se manterão elevadas, incentivando os investimentos em novos estabelecimentos comerciais.
Carlos Thadeu de Freitas Gomes
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