Rebeca Ribeiro
03/Jul/2024 Diario do Comercio
As mudanças nos hábitos dos consumidores obrigaram os shoppings a se adaptarem, deixando de ser apenas centros de compras para se transformarem em espaço de convivência, segundo Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce)
Hoje, no shopping é possível fazer academia, frequentar igreja, resolver problemas no Poupatempo, cortar cabelo, ir ao mercado e, claro, visitar as lojas preferidas.
A ascensão do e-commerce tem acelerado essa mudança, o que leva a um questionamento: O shopping vai se dedicar cada vez mais ao lazer ou ainda haverá espaço para as compras?
Humai explica como está o cenário para o setor em entrevista ao Diário do Comércio. Confira:
Diário do Comércio – Com o avanço do e-commerce, as pessoas ainda compram nos shoppings?
Glauco Humai – O ano de 2023 teve o maior volume de vendas da história dos shopping centers, R$ 194 bilhões, o melhor resultado da história do setor. Isso é a prova de que as pessoas continuam comprando nos shoppings. Ainda mais com a integração do físico com o digital, que permite ao cliente comprar no shopping e receber em casa, ou comprar on-line e retirar o produto no shopping, ou ainda comprar em um shopping e retirar em outro. Então, continua sendo muito relevante para as pessoas realizarem compras e otimizarem o tempo.
Qual é o perfil atual da loja de shopping?
O shopping tem um mix muito variado. Existem shoppings que têm um perfil mais voltado para roupas, outros para móveis, mais múltiplos, para pessoas mais jovens ou um perfil mais conservador com a idade. Nos 639 shoppings existentes no Brasil, você encontra perfis diferentes, mas o shopping pode abrigar qualquer tipo de loja, seja uma grande rede, uma franquia que deseja expandir seu negócio ou um lojista pequeno que deseja entrar no empreendimento através de quiosque. O shopping é muito democrático neste sentido, pode abrigar diferentes categorias e formatos de lojas para se adequar ao público.
Existe um segmento que funciona melhor em shopping?
Nos últimos anos os shoppings tiveram bons resultados em todos os segmentos, mas eu destacaria perfumaria, telefonia e joalheria. Não que sejam os melhores, mas são segmentos que performam muito bem há bastante tempo.
A Abrasce divulgou uma pesquisa que mostra que 79% das marcas operam apenas uma loja dentro do shopping. O cenário está mais favorável ao pequeno empreendedor?
O cenário não mudou, mas o shopping é um ambiente mais seguro e controlado para o empreendedor. Ir para o shopping, ou abrir uma loja na rua, depende da visão estratégica do empreendedor. Na rua, o empreendedor corre um risco maior em relação à segurança, chuva, falta de energia… pode aparecer uma obra na frente da loja impedindo o consumidor de estacionar. No shopping, o custo de operação é maior, porém, ele não tem nenhum desses riscos, funciona de domingo a domingo, tem estacionamento, segurança, o fluxo de pessoas é constante. É uma escolha. Com a criação de modelos de lojas menores, como pop-ups e quiosques, foi possível a entrada de pequenos lojistas que viram o shopping como uma solução para seus problemas. Nos últimos anos aumentou a presença desses lojistas, e essa é a essência do nosso negócio: 75% do mix dos shoppings é composto por pequenos negócios.
Como está a relação dos shoppings com os lojistas?
É uma relação saudável. Desde a pandemia, quando o shopping abriu mão de cobrar aluguel para o lojista, a relação melhorou ainda mais, o lojista percebeu que somos parceiros de negócio. Se não fosse uma relação saudável, não iríamos crescer mais que o PIB e que outros setores. E a quantidade de lojistas só aumenta. Há cinco anos tínhamos menos de 100 mil, agora temos 120 mil.
Por que os shoppings antigos estão muito movimentados e os novos perderam público?
A vacância média dos shoppings está saudável, em 5,2%, a mais baixa dos últimos anos. Mas há alguns com vacância menor, outros com maior. Entendemos que existe um processo de maturação nos shoppings. Quando é inaugurado, ele leva algum tempo para adequar o seu portfólio, mix, consumidor, logística. Então, demora alguns anos para amadurecer, por isso geralmente há uma vacância maior entre os novos. Além disso, há uma mudança geracional e paradigmática na sociedade, com o trabalho remoto, diferenças de locomoção, entre outras. Shoppings que eram voltados ao corporativo estão se adequando a esse novo cenário, pois a dinâmica mudou, trazendo assim mais serviços para aumentar esse movimento. É um momento de transição natural, que estamos enfrentando há algum tempo. Porém, não é um fator negativo.
O shopping ainda é um bom lugar para se fazer compras?
O shopping é o melhor lugar para se fazer compras. No entanto, ele vai muito além de compras. O shopping passa por uma transformação que se intensificou com a pandemia, uma evolução no mix para abrigar outras atividades e serviços. Hoje o shopping é muito mais um centro de conveniência do que de compras, onde é possível tirar passaporte, levar as roupas à lavanderia, ir aos correios, etc. O consumidor tem acesso a tudo o que precisa em um lugar centralizado. E ainda é o melhor lugar para se fazer compras porque geralmente está conectado a alguma mobilidade, tem fácil acesso a transporte público, estacionamento, segurança, funcionários para auxiliar e é possível encontrar uma variedade de produtos sem precisar se locomover muito.