Vinicius Neder Rio14/03/2024 0 globo
Governo vai antecipar as duas parcelas do 13º dos aposentados do INSS
O pagamento do 13º-salário de aposentados e pensionistas do INSS será antecipado para abril e maio, reforçando um cenário favorável para o consumo das famílias, que deverá ser o motor do crescimento econômico neste ano.
A antecipação, revelada pelo GLOBO na semana passada, foi confirmada em decreto publicado ontem no Diário Oficial da União (DOU). O objetivo do governo é dar um empurrão no consumo neste início de ano, com sinais de desaceleração da atividade. Vai funcionar?
Ainda que a economia perca fôlego — o crescimento de 2023 foi de 2,9%, mas deverá ficar em 1,8% este ano, conforme projeções de analistas do mercado financeiro compiladas pelo Banco Central (BC) —, um mercado de trabalho aquecido e a retomada do pagamento de precatórios (dívidas decorrentes de sentenças judiciais para as quais não cabe mais recurso) contribuem para o cenário favorável.
Cerca de 33 milhões de beneficiários do INSS deverão receber o 13º-salário antecipadamente. A medida vai injetar na economia em torno de R$ 66 bilhões, mas não são valores adicionais, já que o benefício seria pago de qualquer forma, no fim do ano. O mesmo foi feito em anos anteriores.
“Não é um recurso novo, mas tende a ter efeito maior este ano do que em outras ocasiões. Alguns vetores ajudam a estimular um pouco mais a economia”, Fábio Bentes, economista sênior da CNC
A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), ressalta que a medida pode até ter contribuído para o comportamento do consumo das famílias no ano passado. Essa demanda privada foi mais forte no primeiro semestre e perdeu fôlego no fim do ano.
Mesmo assim, para Fábio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), há motivos para a medida dar um impulso adicional neste ano:
— Não é um recurso novo, mas a medida tende a ter efeito maior este ano do que em outras ocasiões. Alguns vetores ajudam a estimular um pouco mais a economia, como a valorização real do salário mínimo, a inflação menor e o endividamento um pouco menor.
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O quadro mais favorável ao consumo passa pelo mercado de trabalho. No trimestre móvel terminado em janeiro, a taxa de desemprego ficou em 7,6%, em níveis próximos dos melhores momentos da série histórica do IBGE, vistos em 2014. Na média de 2023, o rendimento do trabalho saltou 7,2% ante 2022.
Silvia, do FGV Ibre, ponderou que essa evolução positiva do mercado de trabalho não deverá se repetir em 2024. O desemprego deverá se manter nas mínimas, mas com menos geração de empregos e mais reajustes de salários. Em janeiro, 83,2% dos reajustes salariais negociados naquele mês tiveram aumentos acima da inflação, segundo o Dieese.
Inflação é o risco
Essa dinâmica é menos favorável do que quando o avanço no mercado de trabalho se dá pela geração de empregos, avalia Silvia. O risco de um mercado de trabalho aquecido via elevações de salários, frequentemente citado por economistas, é de pressionar a inflação.
Um relatório da semana passada da corretora Genial Investimentos avalia que a combinação de uma economia puxada pelo consumo com a perspectiva de continuidade na queda nos investimentos aponta para uma “composição de crescimento inflacionária da economia, que é liderada pelo consumo das famílias sem que haja expansão da capacidade produtiva”.
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