no Natal de 2020, com queda de 12% nas vendas. Durante o ano, lojas fecharam devido às restrições da quarentena
SÃO PAULO — Administradoras de shoppings e lojistas terminaram o ano em guerra. São duas as razões: a cobrança do 13º aluguel das lojas em dezembro, algo contratual, mas que vem sendo alvo de críticas de lojistas diante da crise provocada pela pandemia, e a aplicação do IGP-M para a correção dos contratos de locação. O índice subiu 23,14% em 2020, muito acima da inflação oficial e das vendas.
Donos de lojas afirmam que as duas medidas não são justas em um ano com forte queda de vendas, restrições de horários e de público. E afirmam que os administradores de shoppings estão se atendo apenas aos contratos — sem levar em conta a realidade do setor.
Muitos alegam que algumas imobiliárias, por exemplo, trocaram a correção dos aluguéis do IGP-M para o IPCA, que mede a inflação oficial do país.
O IGP-M, medido pela FGV, tem 60% do seu índice composto pelos preços no atacado, que foram muito influenciados pelo alta do dólar e pelo aumento dos preços de commodities agrícolas e minerais. Isso fez o índice disparar. O IPCA, concentrado somente nos preços ao consumidor, deve ter fechado o ano em pouco acima de 4%, segundo as projeções do mercado. O IBGE divulgará o índice no dia 12 de janeiro.
— O 13º aluguel é contratual e ocorria quando as vendas subiam, os shoppings funcionavam até a meia-noite em dezembro, havia razão. Mas agora não há qualquer sensibilidade — afirmou Tito Bessa Junior, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos), que representa cerca de sete mil lojistas.
Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), as vendas deste Natal foram 12% menores que as registradas em igual período de 2019. Ao divulgar este levantamento, a associação afirmou que o resultado gerava otimismo.
Vendas 12% menores
“Apesar de negativo, o resultado confirma a resiliência dos shoppings e suas lojas que, mesmo após meses fechados em cumprimento aos decretos municipais e estaduais, seguem, aos poucos, revertendo as perdas que chegaram a 90% por conta da pandemia”, informou a associação, em nota.
Mas, para Bessa Júnior, os resultados para as pequenas lojas foram piores que os divulgados:
— Essa queda de vendas de Natal é a média, inclui os dados das grandes lojas, como os supermercados, que sofreram menos em 2020. Para as pequenas lojas satélites, a queda de faturamento deste Natal foi de 25%.
Ele afirma que um dos problemas é que os shoppings sequer estão aceitando debater estas questões coletivamente, exigindo que cada lojista tente, de forma isolada, resolver seus problemas.
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Fernando Abilio Kherlakian, diretor da rede de roupas Khelf, que tem 39 de suas 42 lojas em shoppings, conta que passou os últimos dias do ano passado enviando e-mails aos administradores de shoppings tentando renegociar o 13º e o IGP-M.
— Mas está muito difícil, os administradores estão inflexíveis — disse o presidente da Ablos, que defende um acordo setorial, para evitar este tipo de desgaste.
Os boletos de pagamento de aluguel com o 13º estão chegando agora às mãos dos lojistas. Um empresário que pediu para não se identificar afirma que a administradora de shoppings Multiplan apresentou como solução apenas o parcelamento do 13º do aluguel durante todo o ano.
Outro lojista que também pediu que seu nome ficasse sob sigilo afirma que os shoppings alegam que já ajudaram no passado, no pior momento da pandemia.
Mas ele argumenta que a suspensão do aluguel ou redução de taxas no período de quarentena, em que os shoppings estavam totalmente fechados, era uma obrigação, e que não se poderia cobrar aluguel por algo que não estava sendo usado.
Risco de lojas fecharem
Bessa, da Ablos, diz que, sem acordo, muitas lojas vão fechar, e o desemprego vai aumentar:
— Hoje, os 577 shoppings do país empregam, diretamente, 1,1 milhão de pessoas, mas as pequenas lojas representam de 800 mil a 900 mil do total dos empregos.
Em nota, a Abrasce disse que “desde o início da pandemia do novo coronavírus, o setor sempre esteve aberto ao diálogo, buscando entender a realidade dos lojistas, caso a caso, prezando pelo bom senso de ambas as partes”.
A associação afirmou que as administradoras de shopping centers já adiaram e suspenderam R$ 5 bilhões de despesas dos lojistas considerando aluguéis, condomínios e fundos de promoção.
“Os empreendedores e administradores de shoppings seguem comprometidos com seus lojistas, em conversas e apoio constantes para que toda a cadeia se mantenha sustentável”.
A Multiplan afirmou, em nota, que “cumpre rigorosamente os seus contratos”. Acrescenta ainda que segue comprometida com a recuperação das atividades de seus mais de 5.800 lojistas”.
fonte: Agência O Globo
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