Trabalho informal atinge maior contingente desde 2016, com 41,1% da população ocupada
Diego Garcia
RIO DE JANEIRO
O desemprego no Brasil caiu para 11% no último trimestre de 2019, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (31).

Essa é a menor taxa do quarto trimestre desde 2015, quando atingiu 8,9%.

O resultado coincide com a expectativa dos economistas ouvidos pela Bloomberg, que esperavam que a taxa desemprego atingisse 11%.

Marcado pelo Natal e início do verão, o país tinha 11,6 milhões de pessoas que buscavam emprego no último trimestre do ano –número 7,1% menor em relação ao trimestre anterior, o equivalente a 883 mil pessoas.

O índice de desemprego caiu tanto na comparação com o trimestre encerrado em setembro quanto ante o período de outubro a dezembro de 2018.

A média anual de desemprego ficou em 11,9%, um recuo comparado ao ano anterior, quando ficou com 12,3%.

“Porém, na comparação com o menor ponto da série, quando atingiu 6,8 milhões em 2014, a população sem trabalho quase dobrou, crescendo 87,7% em cinco anos”, disse o IBGE.

Foram 12,6 milhões de desocupados em média no ano de 2019, um recuo de 1,7%, ou 215 mil pessoas a menos, em relação a 2018.

O trabalho informal atingiu seu maior contingente desde 2016 no Brasil, com 41,1% da população ocupada, ou o equivalente a 38,4 milhões de pessoas, apesar da estabilidade com relação a 2018.

“Houve um aumento de 0,3 ponto percentual e um acréscimo de um milhão de pessoas”, disse Adriana Beringuy, analista da Pnad.

Para o economista e professor da faculdade Fipecafi Samuel Durso, trata-se de uma “uberização” dos postos de trabalho, o que é preocupante.

“Temos uma mudança na forma como os trabalhos estão ocorrendo. De uma forma mais genérica, podemos falar de uma ‘uberização’ dos postos de trabalho em vários setores, com o advento da tecnologia e outras possibilidades de atuação e flexibilização de trabalho, que acabam gerando algumas alterações nas formas de contratação e emprego. Isso é preocupante na medida que o trabalhador informal tem menos segurança”, analisou o professor Samuel Durso.

A economista Victoria Santos Jorge, da Ativa Investimentos, também vê com preocupação os dados de trabalhadores informais.

“Essa informalidade elevada contribui de forma ruim para a situação previdenciária do país, já que esses trabalhadores não contribuem de forma regular, o que acaba acarretando uma maior redução da população ocupada que efetivamente colabora para a Previdência”, disse a economista.

Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria, foi outro que projetou crescimento em 2020, o que deve intensificar o ritmo e a qualidade da retomada do mercado de trabalho.

“Nesse contexto, a população ocupada deve crescer, ainda que com menores incrementos por volta da segunda metade do ano, explicado tanto pelo efeito nível, contingente já elevado de pessoas com algum trabalho como pela composição, pois esperam-se migrações dentro da ocupação, com destaque para a formalização de pessoas que já trabalhavam. Tal cenário também é favorável à alta adicional dos rendimentos”, analisou Xavier.

Em dezembro, o número de trabalhadores com carteira assinada registrou 33,7 milhões, um aumento de 1,8% com relação ao trimestre anterior, enquanto o número de trabalhadores por conta própria ficou em 24,6 milhões, 782 mil pessoas (3,3%) a mais do que o fim de 2018.

“Houve um crescimento expressivo do emprego com carteira assinada, o que não ocorria desde o início da série, em 2012. Mas, ainda que o crescimento no quarto trimestre seja um dos maiores da série, ainda é cerca de 3 milhões inferior ao recorde da série, de 2014, com 36,7 milhões”, disse a analista Adriana Beringuy.

A categoria dos empregados sem carteira assinada ficou em 11,9 milhões, estável em relação ao trimestre anterior, mas com acréscimo de 367 mil pessoas (3,2%) na comparação com o mesmo período de 2018.

“Pela primeira vez desde o início da crise, houve uma aceleração da queda da taxa de desemprego e do número de desalentados ao mesmo tempo”, apontou Daniel Duque, pesquisador do Ibre/FGV (Fundação Getulio Vargas).

Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas foi o grupo de atividade que teve maior aumento no contingente de ocupados na comparação com o trimestre anterior, com acréscimo de 376 mil pessoas (2,1%).

Por outro lado, houve redução de 178 mil pessoas (2,1%) no grupo de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura.

Já na comparação com o último trimestre de 2018, o maior aumento de pessoas ocupadas foi na indústria, com 388 mil (3,3%) trabalhadores a mais. Alojamento e alimentação foi o que teve maior crescimento percentual, com 5,2%, ou 282 mil pessoas.

O rendimento médio foi de R$ 2.340 no trimestre encerrado em dezembro, permanecendo estável. A média anual ficou em R$ 2.330, com variação de 0,4% em relação ao ano anterior.

A ​massa de rendimento cresceu 1,9% ma comparação com o trimestre anterior e ficou em R$ 216,3 bilhões. Já a média anual subiu 2,5% em relação a 2018, chegando a R$ 212,4 bilhões.

O economista Luca Klein, da 4E Consultoria, espera que o setor formal do mercado de trabalho apresente resultados mais robustos nas próximas divulgações, agora no ano de 2020.

“Os dados do Caged no segundo semestre já sugerem uma recuperação mais intensa, dinâmica que deve se estender para 2020. Logo, esperamos que tal desempenho venha a impactar positivamente a renda, de maneira a favorecer com mais ênfase também o consumo”, disse o economista Luca Klein.

Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o Brasil encerrou 2017 com mais demissões do que contratações.

Em dezembro, o saldo de emprego formal ficou negativo em 328.539 vagas, de acordo com informações obtidas pela Folha.

Luca Klein também considerou positiva a taxa de subutilização da força de trabalho, que marcou queda de 0,8% com relação ao ano anterior.

“Com o segundo recuo seguido nessa métrica, a população subutilizada não recuava desde o final de 2014, o que pode indicar uma recuperação mais robusta do mercado de trabalho. Ainda assim, a taxa média de subutilização em 2019 ficou apenas marginalmente inferior à do ano anterior, 24,2% contra 24,3%.”, disse o economista.

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